Jornalista a dar os primeiros passos na blogosfera, colocámos cinco perguntas ao Paulo Guerrinha sobre os seus blogs.
Podes apresentar-te?
Sou jornalista há quase 20 anos. Já fiz rádio (ainda na altura em que havia rádios pirata), televisão, mas a paixão pela escrita levou-me a ingressar nos jornais e revistas. A minha chegada à Internet aconteceu em 2003, quando tive a oportunidade de gerir e produzir conteúdos para o site do Rock in Rio-Lisboa. Continuei neste meio porque é aqui que tenho a possibilidade de colocar em prática a experiência de todos os meios. Foi isso que apliquei ao SAPO Desporto. Projeto que foi lançado em 2008, o primeiro site com uma equipa vocacionada para a produção multimedia, com uma cobertura jornalística. A fotografia, começou como uma paixão antiga até decidir apostar na formação para desenvolver também como atividade profissional.
Enquanto jornalista, qual é o apelo de escrever num blog?
Há diversos apelos. Escrever é gostar de partilhar histórias. Neste momento talvez sinta necessidade de escrever mais. De sentir as reações de quem lê.
Escreves em mais do que um blog, em qual deles te revês mais?
Acho que me revejo nos três da mesma forma. O facto de ter 3 blogs ativos tem a ver com temáticas e com a minha veia mais jornalística de catalogar os artigos que escrevo. O Coisas da Vida é o blog mais antigo, que esteve inativo durante alguns anos. Neste espaço dedico-me a publicar a minha visão sobre política, economia, desporto. Coisas mais voltadas para temas de atualidade. O Novos Media e Conversas de Homem surgiram mais tarde. O primeiro onde dedico os artigos a temas mais relacionados com a profissão. Tento que seja uma espaço de debate para, de forma modesta, ajudar o jornalismo a clarificar o seu caminho. O segundo, é onde exponho mais a minha vida pessoal. Falo de temas mais light, temas que dizem respeito a um público mais masculino mas que, curiosamente, tem atraído mais mulheres do que homens. Talvez esteja na altura de agregar as temáticas num único site!
No blog Novos Media refletes sobre as tendências na forma como produzimos e consumimos conteúdos. Qual é a tendência mais interessante que vês atualmente a acontecer nos média?
As tendências ainda estão a ser definidas a nível internacional. O grande desafio é perceber como os meios podem ganhar dinheiro com os conteúdos. Produzir conteúdos custa dinheiro. Temos assistido ao aparecimento de muitos sites mas onde a produção própria é escassa. É quase tudo “picar” notícias de terceiros. Costuma ver-se muitos casos em que um meio publica um artigo a citar uma outra fonte que nem sequer é a fonte original da notícia. O maior desafio talvez esteja do lado do público que tem de definir se quer qualidade, rigor, produzido por meios e jornalistas credíveis; ou se quer continuar a ler aquilo que mais facilmente aparece nas redes sociais. Muitas vezes sem rigor, inverdades. Acho que toda a gente sabe disto mas se os utilizadores não pagam pelas notícias, os sites têm de viver da publicidade, e esta (regra geral) é paga de acordo com o número de Page Views. Ainda não chegámos ao ponto em que os anunciantes recusam publicitar em meios onde o conteúdo é uma cópia. Por isso, se a audiência continua a clicar naquilo que é comumente descrito como "videos dos gatinhos", visitando menos o conteúdo jornalístico sério, estamos a abrir espaço para uma queda brutal da qualidade jornalística.
Podes recomendar-nos outro blog que acompanhes no SAPO?
Volto já. É um blog recente mas que se dedica a um tema sobre o qual também sou apaixonado: Viajar na companhia de quem se ama!
O Hugo fala de cinema no SAPO Blogs desde 2007 e aceitou falar connosco sobre o blog e a sua paixão pela sétima arte.
Porque decidiste criar um blog sobre cinema?
Bem, é uma história longa e talvez um pouco decepcionante, ao contrário dos enredos dos filmes de Hollywood, não existe nada de inspirador nisto. Apenas decidi fazer um, e pronto. Sempre fui uma pessoa com uma opinião um pouco especial e desde então leio revistas, livros, sites e até sigo alguns blogs sobre cinema. Pensei para mim que também teria direito a uma opinião acerca do assunto. Algo que se tornou numa espécie de piada, transformou-se num assunto que actualmente levo muito a peito, o engraçado é que não sou o único.
Consegues dar um número para quantos filmes já falaste no blog?
Sei que, desde 2013, até hoje já falei mais de 800 filmes. Visto que tenho o blog há mais de oito anos, penso que o número arredondará os 1500 - 1600. Só comecei a contá-los desde 2013.
Vês mais filmes no cinema ou em casa?
Em casa tenho a loucura de fazer ciclos sobre realizadores, ver filmes mais antigos ou simplesmente aqueles que perdi em cinema. Agora, em sala, por semana, devo assistir por volta de seis filmes, isto se não for em épocas de festivais, ou nas alturas que posso ir aos visionamentos de imprensa e antestreias. Penso que é renhido, mas se tiver que escolher entre ver um filme em casa ou numa sala de cinema, evidentemente vou escolher o cinema. Já aconteceu seguir para uma sala para ver um filme que possuía em casa em DVD. Nesse aspecto sempre gosto de ir à Cinemateca.
Se só pudesses levar três filmes para uma ilha deserta, quais seriam?
Outra pergunta difícil, mas pelo menos existem dois filmes que nunca dispensaria, O Padrinho, de Francis Ford Coppola, e A Vida de Adèle, de Abdellatif Kechiche. O terceiro provavelmente escolheria A Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, nunca canso de vê-lo e revê-lo.
O filme de 2015 de que mais gostaste até agora?
Este ano o filme que mais me deslumbrou foi As Mil e uma Noites dos nosso conterrâneo Miguel Gomes, nunca o cinema português atingiu tamanho patamar, despido por fim das suas ingenuidades e abraçando os nossos traços cinematográficos (sim, nós temos). Porém, 2015 foi também o ano de Mad Max: Fury Road, o melhor blockbuster dos últimos cinco anos, uma viagem que diria dos … diabos! Gostaria também de salientar que The Birdman, Whiplash e Mountains May Depart, de Jia Zhang-Ke, não andam longe.
Tive a ideia de observar “à lupa” o meu aparentemente desinteressante trabalho de operadora de caixa, procurando encontrar mais do que um suceder de práticas que constituem a função de operadora de caixa. Quando comecei a dar atenção aos pormenores, apercebi-me de que, afinal, aquele era um universo rico em experiências únicas e não tão desinteressantes assim. Decidi criar um blogue para registar os aspectos mais marcantes do meu dia-a-dia e também como forma de os compartilhar com outras pessoas. É também uma forma de descomprimir, desabafar e de tornar este espaço útil. A intenção era também fazer com que os leitores tomassem consciência do que é esta profissão e também terem a percepção das figuras que, por vezes, as pessoas fazem no supermercado.
Alguma vez foi reconhecida por um cliente como a Anabela do "A lupa de alguém"?
Consegui manter este espaço em segredo, entre amigos e familiares, durante cerca de 4 anos. Foi então que surgiu a oportunidade de transformar aquele blogue em livro, transpor para um formato palpável o que apenas existia no mundo virtual. Foi aí, no momento em que surgiu o primeiro livro e com as idas à televisão, que os clientes do supermercado me reconheceram e felicitaram. Houve até um cliente que se identificou num episódio do livro e andava pelo supermercado a dizer: “estou na página 20”! Foram momentos únicos que vou guardar para sempre na minha memória. Ainda hoje, há clientes que me chamam de “a escritora” e que ainda visitam e falam sobre o blogue e os livros. Livros, porque em 2014 saiu um segundo volume, ambos com o nome do blogue.
Qual foi o episódio mais caricato que relatou até hoje no blog?
Há tantos episódios caricatos que se torna difícil relatar apenas um. Creio que as situações mais caricatas acontecem provavelmente com velhotes, talvez porque estes modernismos dos supermercados não existiam nos seus melhores tempos, e também porque a localidade em si tem por perto muitas aldeias. Certa vez, estava a atender um casal que tinha dois carrinhos cheios de compras e um velhote que vinha a chegar à fila diz: ” Mas isto é tudo vosso?! Tanta coisa! Parece que vem aí a guerra”!
Do que gosta mais no seu trabalho?
O que mais gosto deste trabalho é mesmo de conversar com os clientes, sentir que eles não me vêem apenas como uma máquina de registar, percebem que existe uma pessoa que está do outro lado da caixa, a operadora.
Pode recomendar-nos outro blog no SAPO?
Eu poderia recomendar bem mais que um blogue, pois há uma imensidão deles que eu sigo. Mas vou puxar um pouco “a brasa à minha sardinha” e recomendar um outro blogue meu, menos conhecido e completamente diferente do “A lupa de alguém”. É o “Riscas, o gatinho amarelo”, dedicado ao meu filho e ao seu animal de estimação, o gato Riscas.