Meet the blogger: José Gabriel Quaresma
Fomos falar com o blogger que (provavelmente) mais corre no nosso bairro virtual, o José Gabriel Quaresma, jornalista e autor do The Cat Run.
Quem é o "Cat"?
O "Cat” é a personagem do blog The Cat Run. Ele é uma e duas pessoas. Ele dá a cara por aquilo que eu escrevo e eu escrevo sobre aquilo que o pulsar dos dias me impele a escrever. Escrevo sempre sobre corrida. As minhas corridas, as corridas dos outros, escrevo sobre histórias que descubro. Escrever sobre o pulsar dos dias e escrever sobre correr é, na verdade, escrever sobre a vida de cada um de nós, quase sempre sobre a minha vida de todos os dias. Dela faz parte integrante a corrida. É isso que faço. É essa a função do “Cat”, a personagem do blog, ser o mensageiro.
The Cat Run não nasceu para entrar em território de ninguém, muito menos para tentar ombrear com os blogs que existem, muitos deles, felizmente, blogs com enorme e longo sucesso, espaços de autores que admiro e que me inspiram e inspiraram para levar este projecto em frente. The Cat Run é e quer ser um blog diferente, isso é assumido. Personalidade própria, escrita própria, linha editorial própria, ideias próprias. Ser um blog diferente é beber nos blogs que entendo serem inspiradores e moldar o carácter individual do meu próprio blog. Sem cópias. É, sobretudo, um espaço de escrita livre, de opinião assumida, que pretende ser um produto interessante, acessível, inspirador, no qual o que se escreve pode ter a ver com tudo e com nada. Até se pode escrever e já se escreveu sobre provas, corridas mas, qualquer linha que se escreva no blog tem que contar uma história. Esse é o segredo do Gato. Acaba de ser revelado. O Gato quer ter o seu próprio espaço, o seu próprio modelo, mas sabe que para lá chegar demora muito tempo, dá muito trabalho. Mas também sabe que é possível lá chegar.
O Gato utiliza técnicas de escrita criativa e de escrita jornalística, na tentativa de tornar o que escreve mais apelativo e gostoso para quem lê. A esmagadora maioria das fotos são tiradas com iPhone, algumas com iPad, são raras as que são descarregadas da internet. Tem uma explicação: o Gato gosta de tocar com a escrita quem o lê. A proximidade, a intimidade, a vulgaridade da escrita é, segundo o que o Gato pensa, potenciada com fotos originais, tiradas pelo próprio Gato. Fica tudo muito mais coerente.
A proximidade, a intimidade, a vulgaridade da escrita é, segundo o que o Gato pensa, potenciada com fotos originais, tiradas pelo próprio Gato.
Como o Gato gosta de correr longas (médias, vá) distâncias, todos os meses convida alguém a escrever um texto. Já tens nomes bem interessantes em agenda. Está em marcha um plano de entrevistas mensais a figuras reconhecidas local ou mundialmente. Se o Gato é o meu mensageiro, se eu sou técnico instalador de palavras, de profissão, então que o Gato dê a novidade mas não lhe cortem a cabeça.
The Cat Run apenas pretende ser The Cat Run. Nada mais. Basta haver apenas um leitor para valer a pena. Felizmente têm havido cada vez mais leitores. Está a valer a pena.
Como surgiu a ideia de criar um blog?
Foi um TPC. Há uns meses vivi um episódio desagradável nas redes sociais, depois de darem um significado a algo que escrevi totalmente errado e diferente do que pretendi. Aprendi que estas coisas são de uma enorme responsabilidade. Decidi, então, tirar um curso sobre blogs, na Palavras Ditas, com o Ricardo Martins Pereira. Criar, desenvolver e gerir um blog de sucesso. Depois do episódio desagradável comecei a olhar para a blogosfera como um espaço mais tranquilo, mas fresco, onde se pode fazer coisas novas, desenvolver ideias, conceitos. Enquanto frequentava o curso percebi que, se calhar, gostava de ser bloger profissional. Percebi que isso leva uma eternidade de trabalho duro, quando acontece, o que não é frequente. Só alguns conseguem. Mas, porque não?
Numa terça feira o trabalho, na aula, foi criar um blog. Cada um criou o seu. O trabalho para casa (TPC) era escrever um texto no blog, o primeiro, e enviar o link ao Ricardo, para analisar e discutir na aula de quinta feira. Só eu é que enviei o meu. A ideia era criar o blog e quando o curso terminasse o blog terminava também. Como amo correr, quando o desafio foi lançado a corrida foi o tema escolhido imediatamente. A personagem nasce, tal como o blog, para morrer logo a seguir. O Gato, The Cat, nasceu com o argumento que as miúdas, na escola, me chamavam gato. Obviamente, isso deu conversa. Resultou. Quis apenas chamar a atenção, utilizei um argumento que sabia que ia dar em conversa, expliquei exactamente isto e disse: fica o Gato, mas tem nada a ver com o que as miúdas me chamavam. Se resultou com vocês resultava com outras pessoas. E, ficou o Gato que corre, The Cat Run.
Depois do episódio desagradável comecei a olhar para a blogosfera como um espaço mais tranquilo, mas fresco, onde se pode fazer coisas novas, desenvolver ideias, conceitos.
O problema é que no dia seguinte a essa aula, na sexta feira, recebo uma mensagem via Facebook de um amigo que conheci nas corridas e que pertence a uma crew de Lisboa. Dizia-me ele que o meu texto estava em destaque no SAPO. Confesso que fiquei meio à toa, mas com um sorriso gigantesco: o meu primeiro texto… Isso provocou a vinda de leitores, mais textos escritos e uma decisão: não podia encerrar o blog no fim do curso. E, aqui está ele. Quando ele nasceu e até decidir manter, o The Cat Run não tinha nenhum objectivo definido a não ser escrever sobre a corrida e a vida. Há pessoas que aguardam pelos textos, que visitam o blog, que reagem. O blog já não é indiferente para algumas pessoas, nem para mim. Para mim nunca foi indiferente. A exigência, o padrão de qualidade, aumentam. Os objectivos definem-se. The Cat Run quer ser, quando tiver que ser, se conseguir ser, um blog sobre corrida, onde se pensa sobre a vida, mas um blog sobre corrida. Ele quer evoluir para uma plataforma que tenha como oferta este olhar diferente sobre o que amo que é correr e ao mesmo tempo um outro posicionamento, que envolva informação tratada e acessível a quem corre. Está pensado, a médio prazo, começar a transformar o The Cat Run num crowdsourcing de corrida. Tudo aqui. Viagens, provas, equipamentos, alimentação, tecnologia, medicina e, claro, filosofar um bocado sobre a corrida. Tudo junto, penso que será um blog que dará gosto visitar todos os dias. Um dia.
Há quanto tempo corre diariamente? Foi difícil desenvolver essa rotina?
Comecei a correr com regularidade há três anos. Sempre tive tendência para ser anafado. Entrei nos quarenta com cabelo. Só me faltava perder cabelo para ser o típico português, e gostar de caracóis. Decidi começar a correr. Joguei futebol até aos 22 anos. Depois, até aos 40, ia ao ginásio umas duas vezes por semana e ficava uns meses sem lá voltar. Era preciso fazer alguma coisa. Sempre detestei correr na rua. No ginásio adorava. Mas, pagava o ginásio e não o utilizava por causa dos horários de trabalho. Comecei a sair para correr uns quilómetros, o tempo foi passando, os quilómetros aumentando, e depois foi como toda a gente que ama correr, passei a correr mais em menos tempo, perdi imenso peso, tornei-me uma pessoa totalmente diferente - endorfinas rulezz - e, hoje em dia, correr já não é um acto, passou a ser algo que faz parte dos meus dias, de mim, algo em que estou total e incondicionalmente viciado. Em todos os aspectos. Tem sido difícil desenvolver esta rotina. Foi difícil. Agora é rotina. As dores nas pernas são a minha dor de cabeça. Há, no entanto, tudo o resto que supera as dores, a falta de vontade, que às vezes também aparece, o frio, a chuva - adoro correr com frio e com chuva - o sol e o calor - fico bronzeado em metade do tempo das outras pessoas -, que não é tarefa fácil, mas que no final de cada corrida sabe a uma vitória. Muito saborosa. Aprendi a conhecer o meu corpo, a minha mente e a curar as gripes a correr.
correr já não é um acto, passou a ser algo que faz parte dos meus dias, de mim, algo em que estou total e incondicionalmente viciado.
Há cada vez mais pessoas a correr. Acha que é um fenómeno para durar?
Tudo é possível. O Hi5 também nunca ia acabar e o Facebook matou-o. Acho que dificilmente o Facebook vai morrer. Por isso, acho que é para durar e é um fenómeno. Acho que são milhões de pessoas como eu, em todo o mundo, que de repente se aperceberam de uma moda, porque começou por ser moda, entraram nela e não mais dela querem sair, como eu. Em todo o mundo. Costumo correr no passeio ribeirinho em Vila Franca de Xira ou na Lezíria, no Porto Alto, ou em Samora Correia, no meio da cidade. Corro, como disse, há três anos. É visível, todos os dias, ou noites, cada vez mais e mais pessoas a correr, cada vez mais crews a nascerem, cada vez mais pessoas a caminhar, cada vez mais jovens e menos jovens, toda a gente, parecem formigas. Por causa da corrida, neste momento, sigo e seguem-me, no Instagram, pessoas de todos os cantos do mundo, Indonésia, EUA, Nova Zelândia, Rússia, Austrália, França, Reino Unido, sei lá, de todo o lado. E, o que é que temos em comum? A corrida. As pessoas descobriram que temos treinador, psicólogo, médico e contador de histórias, gratuito, basta ter um par de ténis e uns calçoes e uma camisola. É o desporto mais democrático e mais barato de todos. Isso é válido para o mundo inteiro. As redes sociais ligaram a teia, uniram as tribos em redor de uma tendência.
Pode recomendar-nos outro blog no SAPO que siga?
Sigo blogs de corrida, pura e dura, blogs generalistas, sigo blogs que me ensinem sobre a corrida e blogs que me dêem prazer enquanto leio. Podia recomendar vários, não o faço por motivos óbvios. Mas, a maioria dos blogs que sigo estão no SAPO.
Obrigado José!