Meet the blogger: Zilda Cardoso
A blogger desta semana é Zilda Cardoso, do blog O Fio de Ariadne.
A escrita sempre desempenhou um papel importante na sua vida?
Fundamental. A escrita foi sempre fundamental para mim, desde os primeiros anos de escola em que a professora de Português lia os meus textos na aula em voz alta e eu ficava envergonhada: achava que não valiam grande coisa.
Para mim, foi a maneira de dizer o que pensava, mesmo que o escrito fosse para a gaveta. E quando comecei a publicar, sempre timidamente, embora durante anos nos principais jornais diários e em revistas, sentia-o como se estivesse a conversar com outros, como se tivesse alguma coisa para lhes dizer que poderia ser útil ou divertido para eles. Sem grandes pretensões.
Em 2008 entrou na blogosfera. Porque decidiu fazer essa incursão? E o que recolhe até agora dessa experiência?
Decidi entrar na blogosfera porque… vamos ver. Depois daquela passagem pela imprensa, fiz muitas outras coisas que também foram valiosas, a meu ver. Tive uma galeria de arte e design que me ocupou durante muitos anos e para a qual escrevi muitos textos, além de a dirigir. Quando decidi acabar com a Galeria por achar que tinha cumprido o meu objectivo que não era ganhar dinheiro mas divulgar o design português, tive vontade de escrever de novo e de forma mais consistente. Publiquei alguns livros, se bem que a minha vocação não fosse escrever romances ou coisa assim.
Em 2008 surgiu a oportunidade de ter um blogue (no que fui muito ajudada pelo Pedro Neves) que eu acho ser o tipo de publicação ideal nesta época da vida. Permite uma escrita com temas actuais, digamos, textos ligeiros e curtos, se possível ilustrados, sem deixarem de ser inteligentes. Pode-se escrever sobre qualquer tema e sempre se recolhe um comentário espontâneo que pode ter interesse para formar opinião sobre assuntos proveitosos para a maioria das pessoas. Acontece um pouco como no teatro: a reacção do público, imediata e natural, permite aperfeiçoar…
No seu blog, o Porto é um tema recorrente. O que a cativa na cidade?
Adoro a cidade, não apenas porque foi nela que nasci, mas porque tem uma dimensão que me agrada muito: não é uma metrópole cheia de brilhos e confusões, tédios e verborreias, ruídos e grandes contradições. E há aqui possibilidade de ouvir música de alto nível, de apreciar as mais modernas exposições de arte, de estar a par de tudo que interessa para formar uma visão do mundo. Não é propriamente uma cidade de província, é muito antiga e moderna. E tem um rio maravilhoso e o mar tão vizinho… e quantas outras coisas, é só prestar atenção. Além de tudo, as pessoas falam a minha língua.
Pode partilhar connosco um livro que tenha gostado de ler recentemente?
É difícil dizer: tenho sempre vários livros em leitura. O que desde há muito me acompanha é um de George Steiner, A Poesia do Pensamento, em que o autor procura mostrar que a filosofia tem a sua música tal como a poesia. Mas tenho estado a tentar ler o último livro editado de Agustina Bessa-Luís, o Elogio do Inacabado que reúne no mesmo volume vários títulos. É a obra de uma escritora genial, inteligente e sábia, que entende que o inacabamento e a imperfeição são próprios do nosso pensamento e da vida. Vou lê-lo com muito cuidado e falar sobre ele no blogue.
Obrigado, Zilda!